Big Brother Tartaruga: ninho de espécie ameaçada é vigiado por câmeras

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Ter a vida vigiada por câmeras não é novidade para os humanos. Há inclusive aqueles que se propõe a ficar confinados por alguns meses em uma casa monitorada todo tempo e por todos os lados. Entre os bichos também não dá para dizer que isso é novidade. Nas últimas décadas as “armadilhas fotográficas” e de vídeo tem ajudado muito os pesquisadores a entender a rotina selvagem especialmente daqueles animais avessos à proximidade com o homem.

Observadores de aves também gostam de filmar e transmitir ao vivo pela internet a rotina de comedouros de passarinhos ou ninhos. No litoral sul de São Paulo imagens de duas câmeras transmitem ao mesmo tempo dados científicos e esperança de salvação para uma das espécies mais ameaçadas dos nossos mares: a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Quase uma centena de filhotes podem nascer nos próximos dias e quando colocarem a cabeça para fora da areia vão ser vistos por internautas do mundo inteiro.

Ninho inédito de tartaruga ameaçada é monitorado por câmeras

Ninho inédito de tartaruga ameaçada é monitorado por câmeras

Os equipamentos estão instalados nas praias do Suarão e Praião, em Itanhaém, e mostram em tempo real os ninhos onde uma tartaruga-de-couro desovou no dia 19 de fevereiro e 17 de março. Foi o primeiro registro de desova dessa espécie no município e o segundo no estado de São Paulo (o primeiro foi em Ilha Comprida). A área comum de desova da tartaruga-de-couro é o litoral norte do Espírito Santo.

Nos dias seguintes a mesma tartaruga fez mais dois ninhos em outras praias do mesmo município. “Ainda não se sabe porque isso aconteceu, ainda estamos investigando. Algumas das hipóteses estão relacionadas à alteração na disponibilidade de alimentos ou mesmo mudanças nas correntes marítimas ”, afirma o médico veterinário Rodrigo Valle, coordenador do Instituto Biopesca, responsável pelo monitoramento. Outra possibilidade é que as tartarugas-de-couro estejam recuperando antigas áreas de desova no litoral paulista.

“Não podemos descartar a hipótese de que esses animais tenham nascido na região e estejam retornando”, complementa.

Maior tartaruga marinha do mundo, tartaruga-de-couro corre risco de extinção — Foto: Arte TG

Maior tartaruga marinha do mundo, tartaruga-de-couro corre risco de extinção — Foto: Arte TG

Apesar da grande expectativa, não é possível afirmar que os ovos vão vingar. A área está sujeita à mares altas e a areia úmida e fria pode prejudicar o desenvolvimento dos embriões. Até a granulação da areia interfere nesse processo, dizem os estudiosos. Os pesquisadores do Instituto Biopesca colocaram uma anilha na fêmea de 1,77 metro para continuar acompanhando o paradeiro dela em possíveis novas aparições. Essa espécie chega a desovar 11 vezes por temporada e põe até 90 ovos por vez.

A tartatuga-de-couro, também chamada de tartaruga-gigante, é a maior tartaruga marinha do mundo segundo site do Projeto Tamar. Pode atingir dois metros de comprimento e pesar até 750 kg. É considerada criticamente ameaçada de extinção pelo Ministério do Meio Ambiente. Vive a maior parte do tempo no oceano e só sai da água para desovar. A única área regular de desova conhecida no Brasil é o litoral norte do Espírito Santo.

Pesquisadores acompanhando tartaruga na beira do mar — Foto: Josy Inacio

Pesquisadores acompanhando tartaruga na beira do mar — Foto: Josy Inacio

O casco tem uma camada de pele fina e resistente e milhares de pequenas placas ósseas, formando sete quilhas ao longo do comprimento, daí o nome popular, tartaruga-de-couro. Apenas os filhotes apresentam placa.

O ninho no litoral paulista foi cercado com telas de proteção para evitar o ataque de predadores e pessoas, já que a praia do Suarão é frequentada por turistas. Monitores do Instituto Biopesca se revezam na vigília e qualquer pessoa pode acompanhar em tempo real pela internet as imagens das câmeras. Para conferir acesse o site do Instituto.

Os ovos eclodem dois ou três meses após a postura, dependendo das condições do ambiente. Se os filhotes nascerem, as telas serão retiradas para que eles possam chegar com segurança até a água. Em média apenas um de cada mil filhotes de tartarugas marinhas chega à fase adulta.

O Biopesca é uma das instituições que fazem parte do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos, financiado pela Petrobrás como contrapartida pela exploração de óleo e gás. Só no ano passado o Projeto resgatou mais de 15 mil animais marinhos nos 1,5 mil quilômetros de praias entre Laguna (SC) e Saquarema (RJ).

Os olhos e as lentes estão prontos para o nascimento. Só resta aguardar a natureza promover o espetáculo.

Tartaruga-de-couro pesa em torno de 300 kg — Foto: Josy Inacio

Tartaruga-de-couro pesa em torno de 300 kg — Foto: Josy Inacio

 

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