Drones acompanham aglomerações em praias do RJ — que seguem aumentando

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No combate à COVID-19 pelo mundo, os drones foram (e ainda são) uma peça chave para o controle de contágio do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Cidades chinesas viralizaram com o uso dessas aeronaves não tripuladas para desinfectar grandes áreas, enquanto a Coreia do Sul e o estado de Recife aproveitaram os equipamentos para conscientizar a população. Agora, eles denunciam aglomerações em diferentes pontos do globo, inclusive nas praias do Rio de Janeiro, onde os casos voltam a aumentar.

Mesmo que o Brasil apresente quedas seguidas nas médias móveis dos números de casos da COVID-19 e de óbitos — de acordo com o levantamento diário do Conass —, o coronavírus ainda circula, de forma ativa, no país. Por isso, as medidas de isolamento, mesmo que mais flexíveis, são importantes. Entretanto, drones revelaram aglomerações de banhistas na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, um final de semana recente, o que não está autorizado pela prefeitura.

Drones denunciam aglomerações em praias do Rio de Janeiro (Imagem: Reprodução/ Buda Mendes/ Getty Images)

Fotojornalistas, drones e aglomerações

Para entender os desafios da cobertura por drones das aglomerações e da situação da COVID-19 na cidade do Rio de Janeiro, o Canaltech conversou com o fotojornalista Buda Mendes, do time da Getty Images — um dos maiores bancos de imagens do mundo —, morador da cidade e, em tempos “normais”, especializado na cobertura de eventos esportivos. Inclusive, são do fotógrafo Gomes as imagens que ilustram esta matéria.

Pode parecer inusitado e impactante ver a cidade de cima — e foi exatamente por isso que Buda começou a explorar os novos ângulos que essas aeronaves não tripuladas permitiam. “A ideia de usar os drones surgiu para mostrar uma dimensão mais macro da pandemia da COVID-19. Em um primeiro momento, estava tudo vazio. Então, você mostrar uma cidade como o Rio de Janeiro, com os seus pontos turísticos completamente vazios, era muito mais interessante quando vista de cima do que através de um plano normal, de onde não se criaria esse impacto”, conta Mendes.

Entretanto, o uso de drones não é, definitivamente, para amadores, já que são exigidas experiência de voo e até registro prévio do percurso, segundo o fotógrafo. “Por voar com o drone, temos também um estudo para entender se aquela área é liberada ou não para voo. Depois, existe todo um trabalho prévio de solicitação de voo, em que enviamos um mapa de voo para que seja aprovado pelos órgãos competentes”, explica Buda.

Se hoje há aglomerações em Copacabana, durante o início da COVID-19, em março, a área ficava vazia (Imagem: Reprodução/ Buda Mendes/ Getty Images)

Além disso, é preciso ter responsabilidade e ações que garantam a proteção, evitando uma queda do equipamento, por exemplo. “Num primeiro momento, voávamos em locais completamente vazios [como nas imagens da mesma praia de Copacabana, feitas em março deste ano]. Agora, a gente voa em locais completamente cheios [quando se cobre aglomerações, como as da praia]”, relata o fotógrafo. É preciso incluir nos preparativos, também, o acompanhamento das condições de tempo e ficar atento à perda do sinal do drone.

Se de um lado há desafios técnicos para levantar voo com os drones, existem também algumas questões para quem pilota esses equipamentos, em terra firme. De acordo com Buda, muitos perguntam sobre qual é a finalidade dessas imagens e demonstram receio com a atividade. Entretanto, um dos maiores riscos é o de furto ou roubo. “Qualquer profissional que trabalha assim é muito sujeito a isso, porque todo mundo sabe os valores dos equipamentos. Somos muito visados”, alerta.

Fotógrafo usa drones para denunciar prias lotadas durante quarentena da COVID-19 (Imagem: Reprodução/ Buda Mendes/ Getty Images)

No entanto, os riscos da cobertura compensam por mostrar a realidade do enfrentamento da COVID-19 na região. “Quando você faz um comparativo do material produzido (…) é triste. Primeiro, por ver a cidade vazia [nos primeiros meses da chegada do coronavírus], por conta da pandemia. Hoje, entristece ver a irresponsabilidade das pessoas. Eu ainda acredito que existam muitas pessoas conscientes”, afirma Mendes.

Inclusive, o fotógrafo conta, a partir dos comentários em seu Instagram, que essas imagens chocam as pessoas e os usuários escrevem que “não pode escolas, mas pode a praia lotada”. Além das redes sociais, as fotos de Buda já ganharam o mundo e também foram publicadas por grandes veículos internacionais, como a BBC e o The Guardian. “No futuro, essas imagens serão imagens históricas, porque a gente não precisou de uma guerra para poder dizimar parte da população. Num momento, lá na frente, espero que esse conteúdo produzido ajude novas gerações”, reflete.

“Meu papel como fotojornalista é ser imparcial e mostrar o que realmente está acontecendo”, defende Buda. “Lógico que em determinados momentos a verdade vai doer, mas não posso me omitir, não mostrar [a realidade]. Se a praia estiver vazia, vou mostrar que as praias estão vazias e as pessoas em suas casas, colaborando com a redução da COVID-19. Se a praia estiver lotada, vou mostrar como está e que as pessoas estão sendo irresponsáveis. Não tem como deturpar a verdade”, completa.

Pode fazer aglomerações nas praias?

De acordo com o Plano de Retomada – Programa Rio de Novo, disponível no site oficial da prefeitura, ainda estão restritas aglomerações nas praias. De acordo com a última atualização divulgada no dia 1º de outubro, a cidade se encontra na Fase 6B — na qual aglomerações nas praias, com cadeiras, cangas, guarda-sóis e bolsas térmicas ainda não são permitidas.

De acordo com o plano de reabertura do Rio, praias não deveriam estar lotadas (Imagem: Reprodução/ Prefeitura do Rio de Janeiro)

Nesse estágio de flexibilização, “praias (areia e mar) permitidas a prática de atividades esportivas individuais diariamente. Permitido o banho de mar, vedada a permanência na areia com cadeiras, cangas, guarda-sóis e caixas/bolsas térmicas e a prática de quaisquer atividades não autorizadas. Esportes coletivos (de segunda a sexta) em quadras nas praias e lagoas, vedadas as atividades de entretenimento”, pontua o plano municipal (imagem acima). Sendo assim, as fotografias aéreas feitas por Buda, no 13 de setembro, não deveriam revelar o que revelaram.

Rio de Janeiro e a COVID-19

Nas últimas semanas, as taxas de ocupação dos leitos de UTI para a COVID-19 atingiram níveis críticos na cidade do Rio. Inclusive, o percentual de leitos ocupados nas redes de saúde (estadual, municipal e federal) chegou a 90% há cinco dias, segundo a Associação de Hospitais do Estado do RJ, na última segunda-feira (28). Por enquanto, o aumento da gravidade da situação parece afetar apenas a capital do estado.

Esses novos dados apontam para a necessidade de atenção das autoridades públicas para a situação da região, explica a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Portela, para o jornal Folha de S. Paulo. Inclusive, a flexibilização das medidas de distanciamento social pode ser um fator que aumente a demanda por atendimento médico.

Coronavírus ainda circula no Brasil e aglomerações ainda podem representar risco para a saúde pública (Imagem: Reprodução/ Buda Mendes/ Getty Images)

“O vírus ainda está circulante. Com aglomerações, podemos ter aumentos rapidamente. A gente está vendo isso acontecer na Europa. Apesar de reconhecer que passou a fase de pico, estabilizamos ainda num patamar alto”, comenta Portela. Em outras palavras, ainda é necessária atenção contra o coronavírus e iniciativas que demonstrem descaso com a prevenção, como as fotos via drones das aglomerações, são importantes.

Para acompanhar os cliques aéreos (ou planos) do Buda Mendes, o fotógrafo mantém perfil atualizado nas redes sociais, que pode ser acessado. Em seus registros, Buda comanda um Mavic Pro e leva um Spark como backup de emergência. Ambos são da marca chinesa DJI.

Fonte: Com informações: Folha de S. Paulo, G1 e Prefeitura do Rio de Janeiro (1) e (2)

 

 

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