Ao menos 53 cetáceos, alguns deles oceânicos, encalharam e morreram em pouco mais de 30 dias no Litoral catarinense. Nesta semana, baleia minke foi enterrada na praia após encalhar morta em Florianópolis.
As mortes de cetáceos têm preocupado especialistas que monitoram as praias no Litoral catarinense. Em pouco mais de um mês foram mais de 50 animais que encalharam e os tipo de animais que estão morrendo é que chama atenção das equipes. Muito deles são oceânicos e até raros na costa, como a cachalote e a baleia piloto, além das toninhas, um tipo de golfinho que corre risco de extinção.
Um dos encalhes mais recentes foi de uma baleia minke encontrada morta, em Florianópolis, na tarde de domingo (25). Ela foi enterrada na segunda-feira (26) após veterinários coletarem amostras para analisar a causa da morte. O resultado deve sair em 20 dias.
“As baleias minke também são oceânicas. É uma espécie que registramos mais frequentemente, mas somada aos outros registros mostra que tem algo diferente acontecendo”, diz o biólogo marinho e professor da Univali, André Barreto, que coordena o Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PM-BS) em Santa Catarina e no Paraná.
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Em 2019, foram 90 animais mortos entre setembro e outubro. Este ano, de 20 de setembro até agora foram ao menos 53. Apesar do número menor em comparação ao período do ano passado, mais animais oceânicos encalharam em 2020, segundo o professor da Univali.
“Infelizmente, esse número de mais de 50 cetáceos não é uma coisa incomum. A quantidade de animais está dentro da variação, um pouquinho acima dos últimos meses, mas nada que chama muito atenção. Os encalhes de animais oceânicos é que nos deixou intrigados, além dos frequentes encalhes e mortes de toninhas que têm preocupado”, disse.
Baleia-piloto que morreu em Laguna. Essa foi a primeira vez que a espécie foi registrada em cinco anos de projeto — Foto: PMP/ BS Laguna/Divulgação
Entre as espécies raramente avistadas está o golfinho conhecido como baleia-piloto. Em cinco anos de projeto, ele nunca havia sido avistado no litoral entre Santa Catarina e São Paulo, conforme o coordenador. No entanto, em outubro, dois animais dessa espécie encalharam e morreram, um em Laguna, no Sul do estado, e outro em São Francisco do Sul.
Tentativa de salvar os animais
Segundo o biólogo, a maioria dos cetáceos encontrados encalhados estava mortos. Com a saúde já debilitada, os que foram localizados com vida acabaram morrendo depois, apesar do trabalho das equipes e do auxílio de pescadores e banhistas nas praias para tentar salvar os animais.
Cachalote transportada com escolta policial morre em Florianópolis
Um dele foi a cachalote pigmeu, protagonista de um transporte inédito no estado, sendo levada em um trailer pela BR-101 por quase 100 quilômetros para reabilitação. Mesmo com os cuidados, ela não resistiu e morreu há uma semana. A causa ainda é investigada.
“Chama atenção pelas raridades dessas espécies. A cachalote pigmeu tem pouquíssimos registros no Brasil, não é uma espécie comum, são raras e mais rara ainda na costa”, afirmou.
Cachalote foi transportada em um trailer para reabilitação e morreu dois dias depois — Foto: Nilson Coelho/R3Animal
Maior preocupação é com as toninhas
No caso das toninhas, que correm risco de extinção, muitas vezes a causa da morte está ligada à pesca. O pesquisador não especificou quantos entre os mais de 50 animais encalhados eram toninhas, mas afirmou que é a maioria das mortes registradas.
Toninha foi encontrada morta neste domingo na Praia da Joaquina, em Florianópolis — Foto: Associação R3 Animal
“O que mais preocupa a gente é a questão das toninhas. É o golfinho que mais corre risco de extinção porque estão muitos próximos de onde tem ação humana. Mais de 50 % dos casos a gente encontra indícios de pesca, a toninha se enrola na rede”, diz o biólogo.
Há também casos de filhotes que se perdem da mãe. Em 11 de outubro, por exemplo, dois filhotes de toninhas foram encontradas mortas na praia da Joaquina em Florianópolis. A necropsia apontou que as mortes foram causadas por asfixia e afogamento, possivelmente após captura acidental.
Causa das mortes dos animais oceânicos
Espécie de golfinho é rara de ser encontrada encalhada, pois é oceânica e frequenta pouco a costa, segundo o Projeto de Monitoramento de Praias — Foto: PMP-BS/Univille
Segundo o biólogo marinho, amostras são colhidas para exames e análises estão sendo realizadas, porém, ainda não é possível apontar se existe algum fator que possa estar provocando esses encalhes dos animais mais raros na costa.
“Estamos explorando todas as possibilidades, tanto questões humanas, como tráfego de embarcações, pescas, como questão ambientais, mudanças de correntes, ventos. É muito difícil dizer que um evento especifico afetou determinada espécie, pode ocorrer de afetar, por exemplo, a espécie que ela se alimenta, mas não tem como confirmar”.
Duas toninhas e golfinho são encontrados mortos no litoral catarinense
Além dos cetáceos mais difíceis de serem vistos na costa catarinense, como a cachalote e baleia piloto, toninhas encalharam, e também uma baleia jubarte em São Francisco do Sul , no Norte do estado, já morta.
A baleia minke que encalhou também já sem vida em Florianópolis nesta semana chamou atenção de quem estava na faixa e areia. A língua da baleia macho e com aproximadamente seis metros estava inchada e algumas pessoas chegaram a pensar que havia algum apetrecho de pesca preso à boca do animal.
Segundo a equipe da R3 Animal, que integra o Projeto de Monitoramento, a minke foi vista na praia da Joaquina, mas acabou encalhando depois entre as praias do Campeche e do Morro das Pedras.
O resultado do exame microbiológico e causa da morte deve ficar pronto em 20 dias, ainda conforme a R3 Animal. A baleia minke foi enterrado na praia com auxílio de uma retroescavadeira da prefeitura. Essa espécie pode chegar a 11 metros e pesar até 14 toneladas.