Alguns dias após a expansão mundial dos anúncios sobre medidas de isolamento social, devido à pandemia da Covid-19, começaram a aparecer nas redes sociais imagens de áreas fortemente urbanizadas e com alta densidade populacional, agora vazias e muitas vezes ocupadas pela fauna livre. Fotos do Himalaia visível a partir dos vilarejos, canais de Veneza com águas cristalinas e golfinhos etc. No Brasil, estão sendo relatados casos semelhantes em praias da Bahia e outros estados.
Em termos turísticos, Salvador se destaca não só pela sua história e cultura, como também pelo chamado turismo de “sol, areia e mar”, que tem nas praias seu principal cartão-postal. Entretanto, algumas das principais praias turísticas de Salvador estão interditadas por conta da pandemia, sendo o Porto da Barra um caso icônico, mas nas últimas semanas estamos assistindo, via redes sociais, a uma forte divulgação de fotos e vídeos de praias soteropolitanas, trazendo uma paisagem idílica da faixa de areia sem pessoas, apenas barquinhos e ondas ao mar.
Ao que parece, no imaginário popular, a natureza recompôs parte da qualidade de tempos atrás, quando se podia fruir com mais calma e tranquilidade da beleza e serviços inerentes a estas paisagens. Tudo isso causou inquietações à sociedade de modo geral, pois ocorreu algo como um encantamento angustiante, aquela beleza de praias tão conhecidas, sempre esteve ali, mas sua ocupação sem critérios e limites adequados, bem como os múltiplos usos que de maneira exaustiva, não nos permitiam enxergar a importância e a dinâmica inerentes a estes ambientes. Além da natureza revelada, surge também a preocupação com os milhares de trabalhadores autônomos, funcionários e empresários que dependem da economia da praia.
Apesar de iniciativas positivas da sociedade civil, como a criação do Parque Marinho da Barra, pesquisas recentes têm comprovado os impactos das ações humanas sobre o ambiente marinho de Salvador, como, por exemplo, as grandes festas de rua que geram não apenas diversão e renda, mas também muito lixo, estes em grande parte alcançam as nossas praias. Destacam-se também a ausência de gerenciamento costeiro e a identificação física dos limites das praias, pois permite que embarcações se aproximem excessivamente da faixa de areia, ampliando a contaminação por óleo, descarte de resíduos e outros, além dos riscos de acidentes a banhistas e frequentadores.
Afinal, como podemos contribuir para melhoria da qualidade ambiental e recreacional das nossas praias? Devemos aproveitar o momento para fortalecer a gestão de praias em âmbito municipal e precisamos mudar a forma de nos relacionar com estes ambientes, buscando não a apropriação destes espaços e sim usos mais qualificados, harmônicos e equilibrados.