Estado deve fiscalizar e regulamentar a atividade turística nas áreas rochosas, alerta especialista
Ligados à natureza e pais de um filho de sete meses chamado Sol, o casal Hugo Mendes e Stela Souza mantinham uma pequena pousada que unia hospedagem e terapias holísticas na praia de Pipa (RN), onde a família foi vítima do deslizamento, na última terça-feira (17), de parte de uma falésia.
Ponto turístico reconhecido em todo o país, as falésias de Pipa reúnem a beleza do mar, dunas imponentes e as formações sedimentares, causadas pelo choque frequente das águas do mar com a terra firme, somadas à ação do vento, que moldou a região ao longo dos anos.
Um inquérito foi instaurado pelo Ministério Público Federal (MPF) para apurar as causas do acidente. Enquanto isso, órgãos municipais e estaduais como a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros avaliam os riscos de novos deslizamentos na área.
Somente no litoral do Rio Grande do Norte, onde ocorreu o acidente, o MPF aponta que há 18 inquéritos abertos e seis ações judiciais envolvendo ocupações irregulares nas áreas de falésias.
Para o geógrafo Wagner Ribeiro, professor do departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), não apenas as praias, mas todas as áreas de falésias estão sujeitas a desmoronamentos e devem ser fiscalizadas regularmente pelos órgãos competentes.
“Cabe ao estado o papel de fiscalizar, zelar pelo interesse público com equipes de geólogos e geógrafos que deveriam estar em campo para acompanhar, monitorar e identificar essas fissuras. Em caso de constatação desse problema, deve-se interditar a visitação ou, no mínimo, ter uma faixa de distanciamento”, aponta Ribeiro.
A área do acidente já apresentava problemas de deslizamento há pelo menos dois anos. Em razão disso, em junho de 2018 o MPF havia alertado sobre os riscos e solicitado medidas de prevenção, além de impedir a construção de um cais na região.
Após o acidente, nove imóveis próximo ao local foram isolados, em razão dos riscos estruturais.
O literal brasileiro possui diversas praias turísticas com falésias, entre as mais famosas, além da praia de Pipa, estão Torres (RS), Prado (BA), Barra de Santo Antônio (AL), Morro Branco (CE) e Tambaba (PB).
Para que situações como essa não se repitam, Ribeiro recomenda que além de regulamentar o número de visitantes com base em estudos técnicos e a fiscalização permanente, uma das medidas de proteção seria aliar o próprio turismo a processos educativos sobre as formações rochosas e seus riscos.
“Desse modo a gente teria na atividade turística, além da contemplação, que é sempre agradável e muito aprazível, uma formação mais ampla. Discutindo, por exemplo, como os processos naturais ocorrem na superfície terrestre, especialmente nesse caso envolvendo uma parte voltada ao litoral brasileiro. É uma atividade importante para o turismo, mas precisa ser feita com cautela”, conclui Ribeiro.